Não posso adorar o que não existe, o diabo não é criação da minha religião.

domingo, 6 de junho de 2010

A Bruxa

 
No alto da serra a noite segue apavorante
No ritual para os mortos sob a lua brilhante.
A fogueira crepita sob o êxtase ardente
Dos convivas que dançam provocantemente.
É a libido, o desejo louco de queimar!
Sentir os mortos que avançam para o festejo,
Desejosos pelo venenoso e audaz beijo
Da boca da luxúria que nos faz pecar.

Levantando os braços, ela quer explodir
A barreira que nos impede de seguir
(Trazendo o caos, o terror e a revolução)
O caminho dos mortos, até a encarnação
De seres grotescos que viremos a ser.
E uma bola de fogo explode, e a bruxa grita
-- Magia para o público empolgado que a imita,
Levantando os braços -- Todos querem viver!

Ela põe a mão no meu podre coração
E a chama da vida entra em meu corpo malsão.
Estou curado! E sinto em meu peito batendo
O nervosismo que chega e vai me envolvendo.
Seu fogo queima o tumor e a melanina,
Reanimando meu corpo morto para o eterno
Despertar anímico de poder do Inferno.
Minha bruxa, você é minha adrenalina!

Ressucitado, quero o fogo da vingança
Contra os indiferentes durante a matança
Que tirou a vida dos meus sonhos mais belos,
Escritos com meu sangue nos mágicos prelos
Da minha vasta e noturna imaginação.
Percebo, na mente, um despertar anormal:
É pequeno demais esse reino animal
Que limita aos prazeres nossa evolução.

Fantásticas visões da nova realidade
Alimentam as chamas da anormalidade,
O véu dos mortos cobre o ritual de magia
E a nossa fogueira transforma a noite em dia.
No calor, a flor sensual da libido murcha.
No êxtase, queremos a fogueira aumentar;
À lua, nossos loucos desejos elevar;
Vamos ascender a fogueira para a bruxa!

Levante, levante, levante para o além,
Símbolo flamejante do mal e do bem.
Pentagrama que a bruxa carrega no peito,
Energizado no encantamento perfeito
Que elevará sua magia para a eternidade.
Passado e presente, na fogueira, queimando.
E o futuro, das alturas, se aproximando,
Surgindo numa assustadora claridade!

E envolto no enxofre do Sabá, eis que surge
Baphomet com sua sabedoria! O céu urge.
Lampejos e trovões anunciam sua chegada,
E após conduzir a festa, sua retirada
É marcada por um raio, assim, de repente!
Permanece a bruxa no alto da serra fria.
Sábia, de um novo poder ela se apropria
E avança até mim com seu olhar de serpente.

Ela diz, para meu espanto e furor:
"Espalharás o terror, as sombras e a dor
Através de suas habilidades proscritas
E que agora eu liberto em orações malditas
Neste ritual de chamas e renascimento!
Para que libertes todos os rancorosos
Com tortura e medo, pesadelos raivosos,
Vingança purgatorial contra o aviltamento.".

Feito um monstro, para a lua começo a rugir,
Bebendo sangue humano sem poder sentir
A raiva, que passa por mim despercebida,
Como um vulto de maldade preconcebida.
E a ferida, que sangra em meu vil coração
É a dor causada além, recebida em facadas,
E que eu devolvo em suas chagas... com porretadas!
Pronto e ajoelhado, recebo da bruxa a benção.

Queimando... em nossos pesadelos de agonia
Sentimos nessa noite perniciosa e fria
As maldições que a bruxa nos lança da serra,
Enquanto odiando e observando a cidade em guerra
Invade o sono e a fantasia da humanidade.
Ao dormir, a consciência pesa como um fardo,
Monstros invadem seu doce lar arruinado
E a bruxa esfaqueia o seu véu da impunidade!

Autor & Fonte: Sr. Arcano
 
 

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