Não posso adorar o que não existe, o diabo não é criação da minha religião.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O que é natal? 1ª parte.

A Desconstrução do Natal

por Ligia Cabús


 Você já parou para pensar como o Natal é uma festa estranha? Renas Voadoras, Árvores enfeitadas e um bebê com super-poderes que nasceu de uma mãe virgem! Como foi que todas essas histórias bizarras se uniram numa única festa? Quem inventou tudo isso? Qual o significado oculto por trás dos Reis Magos? Para sanar essas dúvidas Morte Súbita inc desmontou as peças e trouxe até você as respostas para estas e muitas outras perguntas neste especial de Natal por Lígia Cabus.

É nosso desejo que esses artigos despertem em você o interesse por acordar mais cedo e verificar com seus próprios olhos quem é que coloca os presentes na sala e assim entender de onde vem os costumes que ciclo após ciclo todos repetem sem se perguntar o porquê.
E que então leve essa semente questionadora para o próximo ano e para a sua vida e reflita sobre o que mais de estranho você pode estar fazendo sem nem saber o motivo.



Indice:

  • A Breve História do Natal..................................24-12
  • Origens do Natal: festas Pagãs............................24-12
  • Como a Igreja Cristã roubou o Natal......................24-12
  • Tradições Natalinas e Costumes Pagãos..................24-12
  • O Significado Esotérico dos Reis Magos..................25-12
  • A Verdadeira História do Papai Noel......................25-12
  • O Fim do Natal...............................................25-12

A Breve História do Natal

Fim de ano. Um Papai Noel desce, no rapel, do teto de um shopping center. Agora é assim! Os "preparativos" para as comemorações [memorações coletivas] do Natal começam cada vez mais cedo... [exatamente como o carnaval, na Bahia...]. É bom... para o comércio! que a "época" se torne cada vez mais extensa. Eis que o mundo cristão, do ocidente ao oriente, mergulha no clima do jingle bell. É uma coisa que a gente sente: ombrada, bolsada, empurrão, cotovelada, velhinhas, donas-de-casa, chefes de família, traseiros e dedões atropelados pelos carrinhos de compras nas lojas de departamento. Nesse contexto, a grana escorre entre os dedos, as dívidas crescem em prestações que vão durar os próximos doze meses.

Os cidadãos gastam o que têm e o que não têm para cumprir com a obrigação de dar presentes, "fazer a social" com uma renca de parentes e amigos, muitas vezes, nem tão parentes nem tão amigos assim: cunhados, genros, noras, sogros, sogras, agregados e aderentes; isso sem falar nas odiosas listas de "amigo secreto" que circulam nos escritórios. Como diz Machado de Assis, "Deus me defenda" do Natal e "levante as mãos para o céu" se você é um sociopata misantropo marginal que não conhece ninguém e com quem ninguém se importa: poupará dinheiro, evitará a maratona de box tailândes das compras e a performance de patética hipocrisia durante aquela ceia familiar onde o peru do dia 24 é o futuro o indigesto "escaldado" do dia 25... [tô sem fome...] E tudo para quê? Para a festa do Natal? Mas, afinal, que diabo é o Natal?


Diante dessa pergunta, a criancinha remelenta responderá, ou melhor, balbuciará ingenuamente: "É a festa de Pa-papai Noel, de 'ganhá' presente". O transeunte católico estressado que passa apressado na avenida metropolitana dirá que é a "festa do nascimento de Jesus Cristo". Já um acadêmico de História piedosamente vai esclarecer, ajeitando os óculos, que o Natal é uma data estrategicamente fixada em mais uma iniciativa da Igreja Católica Apostólica Romana no sentido de cristianizar costumes pagãos a fim de obter, mais facilmente, por simpatia, por identificação, a conversão à fé cristã daqueles povos que nos primeiros séculos da Idade Média ainda praticavam os cultos politeístas e/ou animistas, especialmente o mundialmente difundido culto solar.


Os três entrevistados têm sua parcela de razão. O Natal é tudo isso e ainda mais. O significado do Natal está sedimentado, para não dizer soterrado, em costumes e crenças muito antigos. A festa do dia 25 de dezembro é uma tradição velhíssima e como toda tradição, na esfera do entendimento popular, quanto mais velha, mais degenerada ela fica. A tradição, simplificada em alegorias mais digestivas para domínio público, inevitavelmente, está condenada ao esquecimento de suas origens e às adaptações [até a desfiguração completa de sua primitiva razão de ser] ao longo das incontáveis gerações, migrações e transformações sócio-políticas às quais é submetida. Não se faz mais Natal como antigamente, mas muito antigamente mesmo!

Origens do Natal: festas Pagãs

Os cristãos primitivos, aqueles das catacumbas romanas e que, eventualmente, serviram de lanche para leões de circo, estes, não celebravam o Natal; nem no dia 25 de dezembro nem em qualquer outro dia. Datar o nascimento do meigo Rabi não tinha a menor importância. Os eventos relevantes de sua trajetória evangélica eram a Paixão [flagelação, humilhação, crucificação e ressurreição] e o dia de sua Ascensão ao céu. Nos dois primeiros séculos da era cristã, 25 de dezembro era uma grande festa pagã da qual os cristãos recusavam-se a participar.

Porém, durante o processo de expansão da fé/cultura cristãos, não somente em Roma mas, também no Oriente Médio e na Ásia, os líderes da Igreja nascente perceberam a necessidade de encontrar um ponto de integração entre as culturas cristã e pagã de modo que o cristianismo se tornasse atraente para os gentios, que deviam ser convertidos; pois a conversão sempre foi a missão primordial dos apóstolos e seus sucessores.

Fazer concessões a costumes proibidos pela lei judaica, como certos hábitos alimentares e obrigatoriedade da circuncisão, enfim, a política da adaptação possível dentro da doutrina, era uma atitude endossada pela atuação e profetização dos dois apóstolos mais prestigiados: Pedro e Paulo, como está registrado em suas cartas [nos Atos dos Apóstolos], onde defenderam o respeito a determinados costumes gentílicos.

Em 305 d.C., o imperador Constantino promulgou o Edito de Milão e o cristianismo foi legalizado no Império Romano. Em 380, Teodósio, adotou a fé cristã ortodoxa como religião oficial e era cada vez mais necessário contornar o constrangimento das festividades pagãs sem, no entanto, proibi-las. [Quem tem coragem de cancelar o carnaval?...]. Muito habilmente, os padres [os patriarcas] da Igreja adotaram a filosofia do "se não pode vencê-los, una-se a eles". Foi assim que o nascimento de Jesus tornou-se o tema perfeito para justificar uma festividade cristã importante na mesma época em que eram celebrados:

  • A Saturnália Romana
  • O Solstício de Inverno
  • O Nascimento de Mitra

Saturnália


A Saturnália era um pacote de festividades que tomavam conta do dia-a-dia dos romanos de 17 a 26 de dezembro. O dia 25, chamado de bruma, era dedicado a Apolo, Natalis Solis Invict - nascimento do sol invicto. Ponto de encontro das mais diferentes nacionalidades, na Roma antiga evidenciava-se a convergência das crenças de diferentes povos. Em termos gerais, considerava-se que a época marcava uma transição do Tempo: o deus, envelhecido ao longo do ano, morria no começo dos dias frios e, ao mesmo tempo, renascia no sol tímido da estação, deus-menino, recomeçando o ciclo de sua existência. As Saturnálias celebravam a renovação do Tempo, o deus Saturno, para o romanos, Cronos, para o gregos. No inverno, os trabalhos no campo estavam concluídos e o momento era de comemorar o fruto das colheitas. As Saturnálias eram também chamadas de Festa dos Escravos porque em uma espécie de mistura de Natividade e carnaval, naqueles dias os papéis sociais eram quase que anulados e a condição servo era esquecida: todos podiam se divertir, havia grandes banquetes, públicos e privados e, eventualmente, inevitáveis orgias. A tradição incluía a troca de pequenos presentes e alguns romanos penduravam máscaras representativas de Baco [Dionísio, deus do vinho e do teatro] em pinheiros.

O Solstício de Inverno


Os cultos bárbaros europeus, em especial o culto às árvores, reverenciavam a mãe natureza no solstício de inverno [primeiro dia do inverno, entre 22 e 23 de dezembro, a noite mais longa do ano] no Hemisfério Norte. Além disso, para germanos e escandinavos, 26 de dezembro era a data de nascimento de Frey, deus nórdico do sol nascente, da chuva e da fertilidade. Na ocasião, enfeitava-se uma árvore representando a Yggdrasil, que na mitologia escandinava era um carvalho gigantesco, eixo do mundo, fonte da vida, localizado no centro do Universo. Esta árvore, também era chamada "carvalho de Odin" [ou Wotan] porque nela, curiosamente, aquele que era o maior entre os deuses nórdicos, criador da Humanidade, enforcou a si mesmo num ritual mágico a fim de conhecer os segredos da morte de da ressurreição [o que faz lembrar a mitológica "Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal da Gênesis bíblica. Sorte de Adão e Eva que somente precisaram comer do fruto para ficarem tão espertos que foram expulsos do paraíso...]

O Nascimento de Mitra


Finalmente, o Natal cristão coincidiria  também com o do nascimento de Mitra, o homem-deus do mitraísmo persa, culto com mais de 4 mil anos, principal religião concorrente do cristianismo, de Roma a Constantinopla. Mitra, que por sinal, à semelhança de Jesus, nasceu em uma gruta, filho de uma virgem, e foi adorado adorado por pastores e magos.

Não bastassem essas convergências tão convenientes, os últimos dias de dezembro também eram festividades em outras culturas, como a egípcia, que celebrava o deus Hórus, outro filho de uma virgem e a cultura dos povos pré-colombianos que, na época natalina, período de 6 e 26 de dezembro [no mês de Panquetzaliztli], lembram o aparecimento de Huitzilopochtli, outro deus solar, este, regente da guerra.

Como a Igreja Cristã roubou o Natal

O estabelecimento da nova festa cristã não aconteceu de uma hora para outra; foi um processo que gerou controvérsias. O assunto foi discutido e pesquisado pelos doutores escolásticos. O fato embaraçoso é que nenhum dos evangelhos, nem canônicos, nem apócrifos registra o dia, mês e ano do nascimento de Cristo; falha imperdoável dos cronistas... Se não está nos evangelhos, resta apelar para a especulação. Uma das referências históricas mais citadas está em um trecho do relato de Lucas contendo indicações explícitas que resultam em deduções lógicas:

"Naqueles tempos apareceu em decreto de Cesar Augusto ordenando o recenseamento de toda a terra... [este censo tinha o objetivo de apurar a arrecadação de impostos]... Todos iam [eram obrigados a] alistar-se em sua cidade de origem. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era [ele, José e também Maria] da casa e família de Davi. para se alistar com sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho e reclinou-o num presépio [um presépio, antes der um monte de bibelôs é, antes de tudo, palavra sinônima de estábulo]. Havia nos arredores uns pastores que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite..."

Evidentemente, o texto fornece informações de valor histórico:

1. Jesus nasceu durante um censo memorável, de alta obrigatoriedade, que causou transtorno aos habitantes de Israel, como a José, que teve de se deslocar em penosa viagem mesmo estando Maria às portas do parto.

2. Naquela noite, havia pastores no campo fato que, considerando os ciclos das estações naquela região, indica clima ameno de primavera ou verão. Jamais um dia de inverno. Ali, novembro e dezembro [Kislev e Tevet] eram meses tão chuvosos e frios que os profetas Esdras e Jeremias comentam ser insuportável sair de casa em tal época do ano.

3. Lucas nomeia, ainda, o governante da Judéia época da Natividade: o judeu Herodes, o genocida da matança dos inocentes, pai do Herodes que anos depois participaria da responsabilidade sobre a sentença de crucificação.

Considerando tais informações, estudiosos concluíram que o menino Jesus veio ao mundo em algum mês de primavera ou verão; jamais em 25 de dezembro. Primavera e verão judaicos estão situados entre os meses de março, abril, maio, junho, julho e agosto. Clemente de Alexandria [150-215, teólogo e pesquisador, padre cristão primitivo em Alexandria] ouviu de sábios egípcios que a data correta era 06 de janeiro, hoje, o dia de Reis, dedicado aos Reis Magos mas também considerado o dia em que Jesus foi apresentado ao Templo. A discussão se aprofundava. Era preciso estabelecer a Epifânia!

Epifânia é a manifestação terrena - milagrosa - de Deus. Não se sabia o momento dessa manifestação: alguns defendiam o dia da Anunciação, ou seja, da concepção imaculada pela graça do Espírito Santo; outros consideravam que a Epifânia dava-se somente na Natividade, ou seja, no vir à luz, no nascimento da criança propriamente dito. As nuances complexas do problema clamavam solução para o quê era essencialmente insolúvel posto que nem a Anunciação, nem a Natividade [nem mesmo o a morte de Jesus] possui qualquer registro histórico confiável.

Em 221 d.C. Sextus Julius Africanus, viajante e historiador que Viveu o começo do século III d.C.. escreveu uma história do mundo, Chronagrafiai, em cinco volumes cobrindo desde a Gênese até o ano 221 d.C.. Segundo os cálculos de Sextus Julius, entre a criação do mundo e o nascimento de Cristo, a Natividade, haviam-se passado 5 mil e 500 anos data que no calendário Gregoriano corresponde a 25 de dezembro do ano 1 da Era Cristã. A Anunciação teria ocorrido em 25 de março.

Em 350 d.C., o Papa Julio I propôs que a data fosse fixada em 25 de dezembro. Finalmente, 354 d.C., o Papa Libério decretou que o Natal cristão era em 25 de dezembro mesmo e pronto! Não era um dado histórico porém, foi uma excelente decisão em termos de estratégia de marketing! Todavia, nem toda a comunidade cristã mundial aceitou esse Natal. Os conflitos doutrinários em torno do assunto se entenderam por vários séculos.
Foram os protestantes que se rebelaram e classificaram a data da Natividade como [mais uma] fraude dos papistas, manobra da própria Besta, do Diabo, para manter costumes pagãos. Em 1647, os puritanos ingleses no poder proibiram a celebração do Natal e quem ficasse em casa na data seria multado. O povo não gostou e se rebelou promovendo manifestações pró-Natal em várias cidades. Em 1660, a proibição caiu. Nos Estados Unidos, entre 1659 e 1681, a festa foi declarada ilegal em Boston mas o ânimo sempre festivo da plebe também reagiu a essa tentativa de suprimir um dia de "santos" folguedos e, em 1870 o Natal foi reconhecido como feriado nacional no país, não obstante o protesto de puritanos apegados à palavra da Bíblia e de nacionalistas radicais, que consideravam esse costume uma herança dispensável dos colonizadores ingleses.
Hoje, o dia 25 de dezembro é admitido como dia da comemoração do nascimento de Jesus pela Igreja Católica Apostólica Romana, pela Igreja Anglicana e alguns grupos protestantes. Para a Igreja Cristã Ortodoxa, o Natal é comemorado entre 6 e 7 de janeiro tendo como referência a apresentação de Jesus no Templo.

Tradições Natalinas e Costumes Pagãos

Uma breve pesquisa deixa claro que o Natal, a festa, não tem raízes históricas na doutrina cristã; antes, é uma convenção estabelecida com a finalidade estratégica de facilitar a conversão dos pagãos nos primeiros séculos do cristianismo. Era como fornecer um fundamento "lógico" para justificar a adesão da Igreja, guardados os devidos limites morais, à festa pagã. Ao mesmo tempo, os bárbaros, com sua mentalidade simplória, poderiam, enfim, acreditar que Jesus era uma espécie de reedição corrigida e atualizada [ou medievalizada] de deuses mais antigos. Jesus era o novo Mitra, o novo Hórus, o novo Apolo, o novo Odin, enfim, da divindade solar que dominava a religiosidade dos povos da Antiguidades.

As tradições natalinas também foram herdadas das mesmas fontes: cultura popular. O único elemento relativamente não-pagão é o Papai Noel, que tem parte de sua origem no folclore cristão sobre a figura de Santa Klaus [São Nicolau]. Ainda assim, o saco do "bom velhinho", entufado de presentes, é uma imagem hiperbolizada [porque o que era uma troca de lembranças singelas transformou-se no pesadelo financeiro das compras de fim de ano].

Trata-se de uma mistura da a  lenda de Santa Klaus, do episódio das oferendas dos três reis magos em honra ao menino Jesus e, mais uma vez, de costumes pagãos. Mesmo os Magos que, relembrando, têm sua origem no relato da natividade do deus persa Mitra, tem sua nuance herege. Entre os cristãos, há dúvida sobre a veracidade histórica da visita destes magos: nos evangelhos canônicos somente o de Marcos registra o fato. Além disso, nas orgiásticas Saturnálias romanas, era costume a troca de presentes que, entre pobres e escravos, geralmente era um objeto manufaturado pelo próprio ofertante.

Outras tradições folclóricas européias reforçaram o costume de presentear além de contribuir na composição estética do Papai Noel: na Itália as crianças, na época natalina, mais precisamente em 6 de janeiro, recebiam presentes de uma fada chamada Befana, que visitava os pequenos à noite recheando suas meias com caramelos e chocolates. A fada era descrita com uma velhinha que voava em uma vassoura, como uma bruxa mesmo, mas uma bruxa sorridente que leva os presentes em um saco.

Na Espanha, nas regiões de Aragon e Catalunha dizia-se que as prendas e doces surgiam de uma árvore mágica que era golpeada com varas de madeira enquanto eram entoadas canções tradicionais [ou seja, os presentes eram obtidos "na tora"...]. Ainda na Espanha entre os bascos e os navarros o carvoeiro chamado Olentzero, personagem mitológico, distribuía os presentes. É um homem do povo, sempre sujo de fuligem, glutão, gordo, barrigudo. Vive solitário nas montanhas e somente no inverno desce aos vilarejos para cumprir sua missão de "Papai Noel". Em outros lugares do velho mundo, acreditava-se que os presentes de Natal eram distribuídos por duendes de barbas brancas, botas altas e gorro de pele de arminho.

Arvore de Natal


Quando os primeiros cristãos chegaram à Europa descobriram que o população local, os chamados bárbaros, na época da Natividade cristã celebravam o nascimento de um dos deuses de seu panteão, Frey, associado ao sol e à fertilidade. Ali, adornava-se um carvalho, representando o Yggdrasil, árvore colossal localizada no centro do Universo. O carvalho também era local de homenagens a Odin e Thor e em suas raízes eram depositadas oferendas para as divindades, uma espécie de ebó europeu.

Tirando proveito do costume local e seguindo política de adaptação das tradições no processo de conversão, São Bonifácio [680-754], um evangelizador que atuava na Alemanha, passou o machado na árvore dos germanos e em seu lugar plantou um pinheiro [não se sabe como o Santo escapou de um linchamento...]. O pinheiro, por sua perenidade, representava o amor de Deus e foi adornado com maçãs, lembrando o pecado original, as tentações e velas,  uma referência a Jesus, "luz do mundo". Mais tarde foi acrescentada a estrela de Belém no alto do conjunto e hoje temos a profusão de enfeites que todos conhecem: as bolas de vidro colorido, pequenos objetos, como guirlandas, anjinhos e lacinhos e, para evitar incêndios, com o advento eletricidade, as velas foram substituídas pelo pisca-pisca.

Presépio


A concepção do presépio como arranjo decorativo-representativo do Natal ou da Natividade é atribuída a São Francisco de Assis que, em 1223, resolveu, com a aprovação do Papa, celebrar o Natal na floresta de Greccio onde fez o arranjo para reconstituir a cena do nascimento de Cristo; uma forma de explicar o Natal de forma que as pessoas mais simples pudessem entender o relato bíblico e o significado da data. O presépio de São Francisco era singelo: feito de palha, tinha uma imagem do menino Jesus, um boi e um jumento vivos. A idéia se popularizou na Europa e a representação foi crescendo em elemento. Em 1567, a Duquesa de Amalfi montou um presépio com 116 figuras. No século XVIII virou tradição entre nobres e plebeus; do velho continente, o presépio foi exportado para o resto do mundo onde, em cada país ganhou características e personagens das culturas regionais.

o modelo minimalista de São Francisco foi enriquecido com  todos os elementos descritos na Natividade bíblica e muitos outros. Materiais como barro, palha, gesso, resina e muitos outros são empregados na confecção das imagens. Adições curiosas são tipos humanos regionais, como na Catalunha [Espanha] onde aparece o caganer e o pixaner [dispensamos tradução]: são dois camponeses, um defecando, outro urinando [praticamente um presépio punk...]. Na França, em Provença, figuras de argila chamadas santóns representam todos os ofícios e profissões tradicionais da região.

A Ceia


Nem só de peru vive a ceia de Natal. O cardápio varia de país para país, incluindo iguarias típicas de cada lugar. A tradição é outro elemento natalino de origem pagã posto que os grandes banquetes eram oferecidos sinalizando a fartura da época, logo depois das colheitas. Entre os quitutes natalinos regionais podem ser encontrados itens pouco comuns e que não constam da ceia brasileira: as pamonhas recheadas, doces e salgadas, no México; o marzipã, doce árabe feito com pasta amêndoas, açúcar e clara de ovos, na Espanha; em Porto Rico, freqüentemente, o leitão assado substitui o peru, acompanhado de pastéis; no Peru, além de, obviamente ter peru a ceia se completa com purê de maçã, chocolate quente e champanhe; sopa de peixe acompanhada de salada de batatas, na República Tcheca e na Eslováquia;  sete tipos de pratos de frutos do mar, na Itália; e na modesta Bulgária, o simbolismo cristão contempla a parcimônia dos pratos frugais como sopa de feijões, lentilhas e amêndoas acompanhados da rakia, uma bebida alcoólica similar ao conhaque, de vários sabores, produzido com frutas diversas.

Peru


Na Europa, até o final do século XV, ninguém conhecia o Peru. Foi através de Cristovão Colombo que o peru foi introduzido... nos grandes banquetes e na ceia de Natal. Naquele tempo os espanhóis o chamavam de galo ou galinha das Índias [porque Colombo confundiu América com Índia].Na França era o coq d’Índe ou dinde e na Alemanha, calecutischerhahn, referência a Calcutá. Em 1549, uma centena dessas aves foram preparadas e oferecidas à rainha Catarina de Médicis [1519-1589, de origem italiana, rainha da França por laço matrimonial]; agradou tanto que tornou-se prato obrigatório nas grandes refeições comemorativas e, por conseguinte, no Natal. A tradição se espalhou por todo o mundo ocidental.

 Fonte: Morte Subita

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